20 de maio de 2025
DRONES AGRÍCOLAS: cenários, virtudes e desafios 3wr1z
Equipamentos de pulverização devem representar um mercado mundial de US$ 6 bilhões até 2030, ganhando mercado na Europa e consolidando-se como fator de empoderamento social e solução em sustentabilidade
O uso de drones de pulverização está se consolidando como uma das principais tendências da agricultura de precisão em diversas regiões do mundo, com crescimento expressivo na Europa, expansão acelerada no Brasil e projeções robustas nos Estados Unidos, China e Índia. Pelo menos duas pesquisas globais apontam resultados na casa dos US$ 6 bilhões nos próximos cinco anos, nas ferramentas para o trato de lavouras.
Conforme o estudo Crop Spraying Drones Market, da empresa indiana de consultoria 360iResearch, o mercado de equipamentos remotos atinge US$ 1,8 bilhão neste ano e chega a US$ 6,42 bilhões até 2030, com uma a taxa de crescimento médio anual (CAGR) de 29,01%. Já a norte-americana GII Global Information avalia que os drones de pulverização representaram um mercado de US$ 1,39 bilhão em 2024. Devendo crescer a um CAGR de 28,73% aos US$ 6,4 bilhões até 2030.
E, se consideramos todos os usos de drones em lavouras – abrangendo também mapeamento, imagens multiespectrais, monitoramento de campo ou gado, uso de aparelhos de asa fixa, rotativa ou híbrido e outras variáveis, o mercado global já chegou aos US$ 6 bilhões e terá ado dos US$ 23 bilhões até 2032 – conforme a consultoria anglo-americana Fortune Business Insights.
Embora com algumas variações considerando também outras fontes quase todas estimam uma taxa anual entre 20% e 30% na implantação de drones de pulverização nos próximos anos. Baseado (contrário aos principais mitos sobre as aplicações aéreas) na precisão, eficiência e segurança da ferramenta. Em última instância, pela necessidade de práticas agrícolas eficientes e mais sustentáveis.
Velho Continente com demanda reprimida
Situação que se reflete por exemplo, na União Europeia (UE), onde as perspectivas de envelhecimento da população (já são mais de 20% acima dos 65 anos) vêm junto com a necessidade de maior produtividade em áreas menores. Inclusive com o continente (que havia restringido em 2009 as aplicações aéreas) agora tendo que rever essas regras – para facilitar o uso da tecnologia remotas.
Com isso, já se tem a expectativa de um incremento rápido no número de ferramentas aéreas no trato de lavouras nos próximos anos – substituindo os aplicadores costais e alguns equipamentos terrestres. Suprindo também uma já sentida carência de mão de obra, ao mesmo tempo em se aumenta a eficiência das pequenas propriedades (que predominam na Europa e onde aeronaves tripuladas são economicamente inviáveis).
Nesse sentido, o foco da tecnologia aérea a ser inicialmente os vinhedos, pomares, olivais e plantações de alto valor (como hortaliças e flores). Onde alguns países já tomaram a frente para suprir a urgência pela tecnologia. Veja como está o quadro em algumas das nações:
FRANÇA
A França liberou a pulverização aérea por drones em abril de 2025. A lei aprovada pelo Parlamento do país permite o uso da ferramenta para o trato áreas íngremes em seu território na Europa (abrangendo principalmente nas regiões de Beaujolais, Alsácia e nos Pirineus Orientais), nas plantações de porta-enxertos para videiras-mãe e em todas as plantações de bananas situadas em Guadalupe e Martinica (territórios ses no mar do Caribe) e outras culturas em terrenos íngremes.
Uma das justificativas para a lei (além da proteção de produtos preciosos para a agricultura do país), está o fato de que a própria Agência sa de Segurança Alimentar (ANSES) atestou que o uso da tecnologia reduz o risco de exposição do aplicador ao produto.
Em 2023, o Senado Francês já havia aprovado em 2023 a Lei do Choque de Competitividade, abrindo caminho para a utilização de drones agrícolas no trato de lavouras no país. Além do mais, vale lembrar que, na verdade, o uso de drones agrícolas na Europa não é proibido, se os requisitos de segurança forem atendidos. O que os países estão fazendo agora é clarear essa exceção.
ESPANHA
Nesse sentido, o licenciamento de drones agrícolas já foi simplificado na Espanha, onde a Agência Estatal de Segurança da Espanha (AESA, na sigla em espanhol) reduziu barreiras. Isso ao introduzir uma plataforma digital para agilizar a avaliação de risco das aplicações aéreas, com a Avaliação de Risco Pré-Definida (PDRA, na sigla em inglês).
Assim, no território espanhol, o PRDA é um cenário operacional para o qual a AESA já efetuou a avaliação dos riscos sobre drones e considerou um meio aceitável – dentro do regulamento europeu. Antes disso, quem fosse operar um drone de pulverização precisava fazer todo o estudo da Avaliação de Risco Operacional Específico (SORA, em inglês) para cada missão em campo – onerando (e muitas vezes dificultando) o processo.
A informação consta em um relatório da fabricante chinesa DJI, divulgado no último dia 13 de maio no portal AgTech Navigator .
Reino Unido, OCDE e o exemplo brasileiro
Em dezembro de 2022, a Autoridade de Aviação Civil do Reino Unido (CAA, na sigla em inglês) concedeu sua primeira permissão para drones de pulverização aérea no bloco formado pela Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e País de Gales) e Irlanda do Norte. No caso, para modelos P40 e V40 (com capacidade de 20 litros), fabricados pela chinesa XAG. A certificação havia sido solicitada pela representante inglesa da marca, a AutoSpray Systems, de Stoke-on-Trent (cerca de 80 quilômetros ao sul de Liverpool).
Lembrando que desde 2020 o Reino Unido não faz mais parte da União Europeia.
Foi na Inglaterra, em 2023, que a chefe da Divisão de Aviação Agrícola (DAA) do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil (Mapa), Uéllen Lisoski Duarte Colatto apresentou o exemplo da legislação brasileira sobre as operações de drones de pulverização em lavouras. Uéllen foi convidada para o encontro do Programa de Sistemas Agrícolas e Sustentáveis do Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). que reúne nações a Europa, Ásia e América). Além da fala da chefe da DAA/Mapa, o encontro se debruçou também sobre os regulamentos de drones agrícolas de países como Canadá, Austrália, Japão
No ano seguinte, a OCDE lançou o documento Princípios orientadores, processos e critérios para o trabalho do Subgrupo Drone/UASS do Grupo de Trabalhos Sobre Pesticidas do órgão. Justamente para acelerar o avanço das aplicações de drones agrícolas.
BRASIL E ESTADOS UNIDOS
O que deve ocorrer na Europa aconteceu em parte já no Brasil, onde o serviço de drones aproximou a tecnologia de precisão aérea das propriedades menores. Isso além de complementar o trabalho dos aviões agrícolas nas áreas maiores – em recortes próximos a áreas ambientalmente sensíveis, com obstáculos ou terreno perigosamente acidentado para aviões.
Foi já de olho nesse horizonte que o Sindag se tornou, em 2017, a primeira entidade aeroagrícola no mundo a abranger também os drones agrícolas. Mas do que isso, parte dos associados que operam com aviões já contam também com a ferramenta remota em suas frotas. Lembrando que o Brasil tem a segunda maior frota de aeronaves agrícolas convencionais do planeta, com mais de 2,7 mil aviões e helicópteros (estes, 1% do total).
Situação parecida ocorre também nos Estados Unidos. O país tem a maior frota aeroagrícola de aeronaves pilotadas do planeta (com 3,6 mil aviões e helicópteros no trato de lavouras) e que representa um do maiores mercados potenciais de drones agrícolas do mundo. Ao mesmo tempo, conforme a Associação Nacional de Aviação Agrícola norte-americana (NAAA, na sigla em inglês), cerca de 5% dos mais de 1,5 mil operadores de aeronaves agrícolas tripuladas de lá já utilizam também drones de pulverização. E outros 11% estão considerando agregar os equipamentos remotos às suas frotas.
Os campos norte-americanos…
Ainda segundo o AGTech Navigator – citando um grupo de distribuidores de drones nos EUA*, cerca de 3,7 milhões de acres (1,5 milhão de hectares) foram tratados com o uso de drones nos Estados Unidos. Em mais de 50 tipos de culturas em 41 Estados, gerando US$ 7,8 milhões para comunidades rurais. Gerando ainda novas oportunidades de emprego e favorecendo a agricultura sustentável – já que os equipamentos remotos permitem aplicar precisamente a quantidade necessária de insumos onde eles são necessários. América do Norte foi a maior região no mercado de drones de pulverização de plantações em 2024.
Além disso, segundo a Associação Nacional de Aviação Agrícola do país (NAAA, na sigla em inglês), cerca de 5% dos mais de 1,5 mil operadores de aeronaves agrícolas tripuladas nos Estados Unidos utilizam também drones agrícolas. E outros 11% estão considerando agregar os equipamentos remotos às suas frotas. Lembrando que os estadunidenses têm a maior frota de aviões e helicópteros agrícolas do planeta, com cerca de 3,6 mil aeronaves.
Para completar, em abril deste ano a Associação Nacional de Produtores de Milho do país (NCGA, na sigla em inglês), anunciou um estudo para avaliar a real situação sobre a adoção de drones de pulverização nas lavouras. O estudo foca ainda na taxa de sucesso da tecnologia em campo e vai se debruçar também sobre como os agricultores percebem, adotam e aplicam as tecnologias de drones. Além das barreiras que impedem a maior amplitude no uso da ferramenta. A informação foi divulgada em uma matéria no portal da revista norte-americana Farm Futures.
(*) Agri Spray Drones, Bestway Ag, Drone Nerds, HSE-UAV, Pegasus Robotics e Rantizo
…e o horizonte brasileiro
O setor aeroagrícola brasileiro iniciou 2025 com mais de 2,7 aeronaves pilotadas atuando nas lavouras do país (segunda maior frota mundial do setor). com expectativa de chegar à marca de 3 mil aviões e helicópteros já no ano que vem. Isso segundo levantamento feito pelo economista e diretor operacional do Sindag, Cláudio Júnior Oliveira.
“No caso dos drones – ou veículos aéreos não tripulados (vants, segundo a terminologia da Anac), temos atualmente 7,8 mil aparelhos registrados na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o que representa um crescimento de 100% na frota em relação ao ano anterior”, assinala Oliveira. Os dados preliminares da pesquisa foram ventilados por ele no final de abril, durante a 30ª Agrishow, ocorrida no interior paulista. O relatório completo ainda deve ser divulgado pelo Sindag – com a estimativa de que esse crescimento deve se sustentar em 2025.
Tanto pela busca contínua da tecnologia para as lavouras quanto pelo trabalho do Sindag para que os operadores registrem imediatamente seus aparelhos. Levanto em conta ainda que a entidade brasileira também tem operadores de aviões que agregaram equipamentos remotos às suas frotas.
ÁSIA: Drones agrícolas como
instrumentos de inclusão social
Enquanto as pesquisas de mercado apontam para um crescimento acelerado no mercado de drones de pulverização na Ásia e Pacífico – frente à Europa, Américas, Oriente Médio e África, na Índia e China as políticas públicas para o setor têm foco também na inclusão. A ação mais recente é a do governo indiano, que desde o ano ado mantém o projeto Namo Drone Didi, com o objetivo de empoderar mulheres no campo através do treinamento e auxílio para a aquisição de drones agrícolas. O foco é equipar com a tecnologia remota, até 2026, cerca de 15 mil Grupos de Autoajuda (SHGs, na sigla em inglês) espalhados pelo País.
Para isso, as mulheres participam de um curso de 15 dias – aprendendo a pilotar drones e aplicar defensivos e fertilizantes. Recebendo, a partir daí, certificação da Direção Geral de Aviação Civil do país (DGCA, na sigla em inglês) para operar os equipamentos.
A ajuda financeira governamental consiste em subsídio de valor de 800 mil rúpias indianas (equivalente a cerca de 50 mil reais), que, em tese, lá paga 80% do custo do equipamento. Além de empréstimos com juros reduzidos, via Fundo de Infraestrutura Agrícola (AIF, na sigla em inglês), para cobrir o restante do valor. As chamadas Drone Didis recebem também cursos gratuitos sobre reparos e manutenção de drones. E a meta é que cada grupo possa atender entre 800 e 1 mil hectares por ano.
BILL GATES
O projeto atraiu até o ex-CEO da Microsoft, Bill Gates, que em março deste ano visitou o Centro de Ciências Agrárias (Krishi Vigyan Kendra – KVK) de Nova Déli para ver de perto a iniciativa. A visita foi facilitada pela Hindustan Urvarak & Rasayan Limited (HURL), uma t venture encabeçada pelas principais empresas públicas de produção de fertilizantes do país. O filantropo norte-americano aproveitou para compartilhar a iniciativa em suas redes sociais.
Os KVKs atuam em nível distrital, como ponte entre a pesquisa e as práticas agrícolas. Seu objetivo é transferir tecnologias agrícolas, realizar treinamentos e oferecer serviços de consultoria para aumentar a produtividade e promover a agricultura sustentável. Esses centros são também associados a universidades agrícolas locais.
Segundo a imprensa indiana, agora em maio, por exemplo, um grupo de 10 mulheres da região de Varanasi, no leste do país, ganhou 338,5 mil rúpias (equivalente a 22,57 mil reais) em dez meses. Valor considerável para um país que tem um cenário complexo: apesar de ser uma das maiores economias do planeta a Índia também é a nação no mundo que mais tem pessoas (234 milhões) vivendo na pobreza, segundo o relatório de 2024 da Organização das Nações Unidas (ONU).
O gigantismo da China
Maior e mais avançado mercado mundial de drones agrícolas, a China tinha em 2021 cerca de 100 mil drones agrícolas operando em seu território, cobrindo 53,3 milhões de hectares pulverizados em lavouras. Isso em 135 milhões de hectares cultiváveis do país, segundo o Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Fao).
Já em 2024, os chineses contavam com cerca de 251 mil drones pulverizando suas lavouras, cobrindo aproximadamente 127 milhões de hectares de terras cultivadas. Um mercado que no ano ado somou US$ 858,2 milhões e que deve chegar em 2035 a nada menos do que US$ 11,74 bilhões – um CAGR de 26,8% para os próximos 10 anos.
O início de tudo veio final dos anos 2000, quando opção de uma política por aparelhos remotos entrou nos Planos Quinquenais do país*. Já pensando na urgência de se dar e a uma massa de agricultores cada vez menor e mais idosa. Segundo o governo chinês, entre 2007 e 2017, a população rural diminuiu 17,4%, enquanto a população total de idosos no campo aumentou em 47,9%. Ou seja, menos gente podendo entrar na lavoura para semear artesanalmente ou carregar um pulverizador costal durante boa parte do dia.
Desde então, a aquisição e drones conta com subsídios dos governos central e das províncias. Buscando, de quebra, incentivar os mais jovens a permanecerem ou voltarem para as lavouras. Segundo o estudo da Consultoria Ipsos, enquanto um agricultor com pulverizador costal conseguia abranger no máximo 0,1 hectare por hora, no mesmo tempo o drone conseguia cobrir até 13 hectares (e sem contato com os produtos químicos durante a aplicação).
No final dos anos 2000 a opção de uma política por aparelhos remotos nos Planos Quinquenais da China veio na urgência e dar e a uma massa de agricultores cada vez menor e mais idosa. Segundo o governo chinês, entre 2007 e 2017, a população rural diminuiu 17,4%, enquanto a população total de idosos no campo aumentou em 47,9%. Ou seja, menos gente podendo entrar na lavoura para semear artesanalmente ou carregar um pulverizador costal durante boa parte do dia.
Com cerca de 1,4 bilhão de habitantes, a China tem hoje um produto interno bruto (PIB) de US$ 18,8 trilhões e sua área cultivável representa pouco mais de 7% das terras agricultáveis do planeta (118 milhões de hectares). Ainda assim, o país tem que produzir comida para cerca de 20% da população mundial. O que implica em manter o foco nas tecnologias que aumentam a produtividade (onde entras as ferramentas aéreas), com subsídios para levar a agricultura de precisão inclusive para as pequenas propriedades familiares.
Drones agrícolas ganham norma ISO
A Organização Internacional para Padronização (ISO, na sigla em inglês) lançou neste ano a normativa para avaliar a cobertura de pulverização feira por drone agrícola. A norma ISO 23117-2 foi publicada em fevereiro estabelece medições para avaliar a deposição a fim de determinar a quantidade e a distribuição da pulverização em uma área de superfície plana transversal à direção do voo. Ou seja, focada na largura efetiva da faixa de pulverização e ajudar a prevenir danos ambientais.
A nova norma não serve, por exemplo, para avaliar a cobertura dentro da cobertura vegetal (deposição tridimensional) ou de sistema eletrostáticos. A ISO tem como membro órgãos de normatização de 174 países – a representante do Brasil é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Castor Becker Júnior
Jornalista Reg. prof. 8862-DRT/RS